A quarta entrada na franquia Capitão América 4 chega com grandes expectativas, colocando Sam Wilson (Anthony Mackie) no papel do herói de escudo. No entanto, apesar de momentos de ação eletrizantes, o longa se perde em uma trama política confusa, um ritmo irregular e um vilão que poderia ter sido muito mais ameaçador.
Desde o começo, o filme tenta capturar a energia de Capitão América: O Soldado Invernal, que é amplamente considerado um dos melhores da Marvel. Ambos os filmes mergulham em conspirações políticas, espionagem e dilemas morais. Mas enquanto o longa estrelado por Chris Evans equilibra ação e narrativa com maestria, Admirável Mundo Novo acaba parecendo um quebra-cabeça com peças faltando.
Um filme de super-herói empolgante, mas cheio de tropeços – Sam Wilson brilha, mas o roteiro não ajuda
O filme começa com uma sequência de ação intensa, onde Sam Wilson e seu novo parceiro, Joaquin “Falcão” Torres (Danny Ramirez), interrompem um negócio ilegal de adamantium no México. Isso os leva à Casa Branca, onde o presidente Thaddeus Ross (Harrison Ford, substituindo o falecido William Hurt) tenta costurar um tratado global para distribuir o metal raro.
Mas as negociações são interrompidas por um ataque inesperado do supersoldado Isaiah Bradley (Carl Lumbly), resultando na prisão do veterano e na remoção de Wilson como Capitão América.
A partir daí, a história tenta se desdobrar como um thriller político, mas tropeça em uma trama apressada e cheia de buracos. Sam e Torres investigam uma conspiração de controle mental, arquitetada por Samuel Sterns (Tim Blake Nelson), que busca vingança contra Ross. A jornada é repleta de reviravoltas e batalhas impressionantes, mas a sensação de que algo está faltando é constante.
Embora o filme tente mostrar o conflito interno de Sam Wilson sobre carregar o manto do Capitão América, essa questão não recebe a profundidade que merece. Diferente de O Falcão e o Soldado Invernal, onde a narrativa abordava o peso simbólico de um homem negro assumir esse papel, aqui a discussão parece superficial. O roteiro opta por cenas de ação em vez de explorar as consequências emocionais dessa transição, o que poderia ter enriquecido muito mais o filme.
Vilões sem impacto e CGI questionável
O grande problema é que Sterns nunca parece ameaçador o suficiente, diferentemente da Hydra em O Soldado Invernal, que realmente mudava as regras do jogo no MCU. Além disso, a transformação de Ross no Hulk Vermelho é um momento aguardado, mas acontece tão tarde no filme que perde parte do impacto. Para piorar, o CGI em algumas cenas deixa a desejar, especialmente no embate entre o Capitão América e o novo monstro.
Outro ponto negativo é a falta de um antagonista verdadeiramente memorável. Samuel Sterns é um personagem interessante nos quadrinhos, mas sua versão no MCU nunca foi suficientemente explorada. Aqui, ele se torna apenas um vilão genérico, sem presença marcante. A Marvel já enfrentou esse problema antes com antagonistas que não deixaram impacto, como Malekith em Thor: O Mundo Sombrio.
Elenco carismático salva o filme
Mesmo com seus problemas, Admirável Mundo Novo se sustenta no carisma de seus atores. Anthony Mackie prova que é um sucessor digno de Steve Rogers, trazendo uma abordagem mais humana e pé no chão ao papel. Danny Ramirez se destaca como o novo Falcão, e Harrison Ford entrega uma performance sólida como o durão Thaddeus Ross. Shira Haas também surpreende como Ruth Bat-Seraph, uma ex-Viúva Negra israelense agora no comando da segurança de Ross.
O filme também acerta ao expandir a participação de personagens secundários. Joaquin Torres tem mais tempo de tela e se firma como um aliado confiável de Sam. Isaiah Bradley, por sua vez, poderia ter tido um papel maior, já que sua presença traz um peso emocional e político significativo para a história.
Direção e ação: pontos altos e baixos
Julius Onah, o diretor, claramente tenta seguir o estilo dos irmãos Russo em O Soldado Invernal, trazendo sequências de ação bem coreografadas e perseguições de tirar o fôlego. No entanto, enquanto os diretores de Guerra Civil conseguiram equilibrar drama e ação, Onah luta para manter o mesmo nível de intensidade.
As cenas de luta são bem feitas, especialmente as batalhas aéreas de Sam Wilson e as coreografias do Falcão. Porém, algumas escolhas de câmera e cortes rápidos demais podem atrapalhar a imersão. A sensação é que o filme quer ser mais sério, mas não consegue abandonar totalmente a fórmula tradicional da Marvel, cheia de piadas que nem sempre encaixam bem no tom da história.
Veredito: um filme divertido, mas longe de ser memorável
No fim, Capitão América 4: Admirável Mundo Novo é um blockbuster competente, mas não marcante. Ele tenta emular o sucesso de O Soldado Invernal, mas não alcança a mesma tensão e complexidade. As cenas de ação são empolgantes, mas o roteiro não acompanha o nível de ambição do filme. Para os fãs da Marvel, ainda vale o ingresso – só não espere sair do cinema com a mesma empolgação que tivemos com o épico thriller de espionagem de 2014.
O longa acerta ao dar mais espaço para Sam Wilson brilhar como o novo Capitão América, mas peca ao não aprofundar os conflitos emocionais do protagonista. O vilão pouco impactante e a trama previsível impedem o filme de alcançar seu verdadeiro potencial. No final das contas, Admirável Mundo Novo é um filme divertido, mas que dificilmente entrará para a lista dos melhores do MCU.