“Paraíso,” um longa-metragem alemão da Netflix, apresenta uma distopia intrigante em que tempo é dinheiro e pessoas vendem anos de suas vidas para empresas, enquanto bilionários se beneficiam com a extensão de suas existências.
No centro dessa trama está Max, um executivo que se depara com um dilema angustiante quando sua esposa, Elena, é obrigada a ceder 40 anos de sua vida para quitar uma dívida. No entanto, apesar do conceito instigante e da abordagem fria e intrigante da relação entre tempo e dinheiro.
O filme tropeça ao direcionar o foco para os protagonistas, que são, na verdade, agentes da opressão e exploram os mais vulneráveis. Desde o início, o filme tenta estabelecer uma conexão emocional entre o público e os protagonistas, Max e Elena, buscando despertar compaixão por suas circunstâncias desafiadoras.
Se você pudesse trocar anos de vida por muito dinheiro, você trocaria?
É uma estratégia compreensível para envolver os espectadores na história, mas revela-se problemática quando percebemos o contexto maior da distopia retratada. Max trabalha para uma empresa que explora pessoas em situações vulneráveis, comprando e revendendo seu tempo, perpetuando assim a desigualdade e opressão sociais.
Essa miopia na abordagem do enredo desvia o foco da crítica social que o filme poderia realizar. Em vez de se concentrar nas injustiças da sociedade retratada e explorar a exploração das classes mais desfavorecidas, “Paraíso” investe tempo e energia em tentar criar simpatia por personagens que, na verdade, são parte do problema. Isso dilui a mensagem social que poderia ter sido uma força motriz para uma reflexão mais profunda sobre os males do capitalismo extremo e suas consequências desumanas.
Ao tentar fazer do público cúmplice das escolhas dos protagonistas, o filme acaba perdendo a oportunidade de transmitir uma mensagem mais impactante sobre a exploração e a desigualdade sistêmicas. Enquanto a CEO da Aeon, a empresa exploradora de tempo, é retratada como vilã, Max, mesmo em sua posição mais “benevolente”, é, na verdade, cúmplice da exploração e da opressão.
A narrativa poderia ter sido mais eficaz ao criar personagens que ilustrassem as diferentes camadas de opressão e explorassem suas motivações e dilemas éticos. A abordagem teria sido mais contundente ao mostrar como o sistema cruel em que vivem influencia e molda as escolhas de cada personagem.
Isso teria proporcionado uma reflexão mais complexa sobre os problemas sociais retratados no filme e possibilitado uma discussão mais significativa sobre a natureza humana diante de situações extremas.
“Paraíso” até tem um objetivo interessante ao apresentar uma distopia cruel que reflete a roda do capitalismo e como os mais desfavorecidos são esmagados por ela.
No entanto, erra ao priorizar o coitadismo dos protagonistas, que são parte do mecanismo explorador, em vez de questionar a lógica desumana do sistema. Essa escolha narrativa enfraquece a crítica social do filme e limita seu potencial impacto.
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Conclusão: A realidade do filme está mais próximo do que a gente imagina?
A corrida contra o tempo vivida pelos protagonistas trouxe à tona a urgência constante em nossas vidas modernas. Estamos frequentemente correndo contra o relógio, lutando para cumprir prazos e metas. Esse ritmo frenético pode levar ao esgotamento e à perda de conexão com nossa própria humanidade.
Embora o cenário distópico do filme possa parecer extremo, percebo que muitos dos temas abordados têm raízes na sociedade atual. Há momentos em que a obra consegue espelhar de forma inquietante as desigualdades sociais e as injustiças que presenciamos ao nosso redor.
Enquanto mergulhava na história, me questionava sobre como posso contribuir para construir um mundo mais justo e equitativo. O filme “Paraíso” despertou em mim um senso de responsabilidade para agir e promover mudanças positivas em nossa realidade, seja questionando os sistemas opressivos, promovendo a igualdade ou reavaliando minhas próprias prioridades.